O Roubo do Tempo
A consulta estava marcada para as 9 horas. Cheguei 10 minutos antes e o porteiro me informou que o médico ainda não estava no consultório. Sentei-me no saguão do prédio e esperei. Esperei…esperei… Às 9:45, decidi que era meu prazo final e foi só me levantar para que o porteiro me apontasse:
– É ele!
Segui atrás no elevador, acompanhada da moça marcada para às 9:30 horas, me perguntando que tipo de consulta seria, se eu já estava extremamente ansiosa pelo receio de chegar atrasada ao trabalho.
Dentro da sala, percebo que o doutor não tem pressa. Conversa calmamente ao telefone, aumentando o suor das minhas mãos. Então, me chama e a consulta se revela bastante agradável e certeira. Saio agradecida, não sem antes solicitar uma declaração que abonasse meu ponto no trabalho. Na sala de espera, mais 5 pessoas aguardam o médico.
Essa cena é corriqueira no nosso país.
– Vamos sair no sábado? Passo na sua casa lá pelas 8. (e ele chega às 9);
– Audiência das 12 horas, fulano e fulano etc, etc, etc (e a audiência começa às 13:15 horas);
– Cirurgia marcada para às 7 e o paciente só desce para o bloco cirúrgico às 7 e meia;
– O voo deveria decolar às 16:55, mas só sai às 17:30;
– O horário do curso é às 8 e meia. O professor chega às 8 e 50;
– A palestra está marcada para às 19:30 horas. Como, nesse horário, tem meia dúzia de gatos pingados no auditório, espera-se que uma audiência maior se forme;
– Sessão de terapia marcada para às 15. Às 15 e 20, o cliente anterior ainda está na sala.
Posso dar mais 325 exemplos como esses e sei que você também tem histórias parecidas para contar. Ou, quem sabe, fez um “mea culpa” agora e se encaixou em um desses personagens atrasados. A questão é que o tempo é um recurso esgotável. Não vivemos dizendo que ele está correndo rápido? Que nem bem o natal passou e – oh, céus! – já estamos em setembro e falta pouco para o fim do ano? Que nos surpreendemos quando nos damos conta que nossa afilhada se casou há 5 anos e, na verdade, parece que foi ontem?
Pois bem, todos temos 24 horas para dispormos da forma que nos for mais conveniente. Se marco um médico às 9, crio a expectativa de sair do consultório por volta das 9:30, 9:40 horas, com tempo de sobra para chegar ao trabalho. E levar adiante meu dia, com tranquilidade. Porém, minha jornada ficou completamente embolada, pelo tempo anteriormente usurpado. E pessoas foram prejudicadas por essa bola de neve que se formou. Dessa forma, devemos entender que um atraso gera consequências para os outros. É claro que não estamos falando de imprevistos. O próprio nome já diz que são situações que não podemos prever. Também não estamos falando de 5 minutos de atraso (se bem que tente chegar depois do horário de partida de um trem, na Europa, para ver o que acontece). O que desejo ressaltar é a amplitude que um determinado fato deliberado provoca no entorno. Se sei que tenho que atender consultório às 9, por que chego às 9:50? Falta planejamento? Pois sugiro que faça um curso de administração do tempo! Perdeu a hora porque estava no facebook? Pois, então, domine-se e livre-se desse vício! Não está nem aí com o prejuízo que seu atraso causa? Oh, meu senhor, então vá se tratar, certo?
Há que repensarmos essa conduta que nos faz olhar, primeiramente, para nós mesmos, em detrimento da coletividade. Ou seja: “estou atrasado mas…ah! o povo espera!” Atrasos são roubos daquilo que hoje é o maior luxo que se tem – O TEMPO – uma vez que nossas agendas estão lotadas. E, como diz Lulu Santos, “Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia/ Tudo passa/ Tudo sempre passará…”