INVEJA 3
Inveja existe desde que o mundo é mundo. Para os cristãos, não foi outra a incitar Caim a matar seu irmão Abel, que ofereceu suas primícias a Deus e Lhe foi agradável aos olhos. Foi o bastante para que pagasse com a vida essa preferência.
Para a psicanálise, a inveja surge, já, no pós-nascimento. Expulso do ambiente tranquilo em que se encontrava, o bebê é jogado no caos, no qual não consegue nem mesmo diferenciar seu corpo do da mãe e integrar a si próprio no ambiente. Logo, o recém-nascido experimentará o desconforto da fome, da fralda molhada, do frio, do calor. E reagirá com o choro, única forma de comunicar à família que precisa de ajuda. Então, vem a mãe e lhe oferece seu leite e carinho. Mergulhado no caos de sensações, sem conseguir identificá-las e integrá-las, ele, imaginariamente, acreditará que a mãe possui a totalidade das coisas e sentirá que depende dela. Então, desejará acabar com essa dependência, agredindo-a. Mordendo-a. Beliscando-a. Invejando-a, porque ela possui o poder da onipotência. Porque ela vai e volta e, muitas vezes, não está imediatamente à sua disposição. Mas, a destruição é ilusória porque o bebê sente que precisa daquela que agride. Então, suporta sua proximidade e, grosseiramente falando, empurra para debaixo do tapete, seu desejo de destruí-la. E aceita a mãe. E a ama! E interage com ela e os dois vivem seu idílio amoroso.
E, assim, caminha-se pela vida, invejando, posteriormente, o brinquedo do amiguinho, a popularidade da irmã, o carro novo do primo, o emprego da amiga, a extroversão do colega de trabalho…E, caso se suporte um pouquinho que a vida é como é e que as oportunidades podem ser diferentes e que as pessoas são diferentes, então o saldo será positivo. Tipo assim: “Estou, mesmo, com inveja da namorada do fulano. Que gata! O que será que ele fez pra conseguir alguém assim? Mas…vou tratar de olhar pra minha própria vida, pois também tenho o meu valor. Vou tratar de cuidar de mim! E pronto!” Agora, se a inveja levar à ansiedade insustentável, o invejoso criará mecanismos de defesa para expulsar de si o que lhe causa incômodo. Um desses mecanismo se denomina Projeção e pode ser explicitado no seguinte exemplo:
vejo um grupo conversando, um grupo para o qual gostaria de entrar. De repente, alguém olha pra mim e sorri. Sorrio de volta. Eles voltam ao papo e meu imaginário dispara o alarme: estão falando de mim! Não gostam de mim! Ou seja, não admito que desejo o que eles têm, acho melhor imaginar que os culpados são eles. E fica muito difícil conviver comigo, porque vivo projetando minhas fantasias nos outros.
Mas inveja-se o que é bom, bonito, brilhante. Nunca vi ninguém invejar uma vida sacrificada. E, se tal acontecer, acho bom marcar, correndo, uma sessão de terapia.