Tudo O Que Eu Excluo Vira Fantasma

PERTENCIMENTO – A PRIMEIRA LEI DAS CONSTELAÇÕES SISTÊMICAS
Meu cliente relata: “Estou mudando de emprego, de cidade e estou tremendamente ansioso com isso. Não durmo mais e estou pensando como será, como as pessoas me receberão, se vou dar conta do serviço, se vou me adaptar à cidade, se vou encontrar um apartamento legal pra morar, se vou sentir saudade daqui…Só de falar, me dá taquicardia, falta de ar e um embrulho no estômago. Estou pensando se tomo um remédio pra ficar mais calmo.”
 
Após deixá-lo esvaziar-se do que lhe aflige e de lhe dizer o óbvio (“Sim, o ser humano é assim mesmo, fica receoso cada vez que sai da sua zona de conforto…Sim, o desconhecido assusta, pelo simples fato de ser desconhecido…Sim, as pessoas com tendências controladoras ficam ansiosas a cada vez que sentem as rédeas lhes escapando das mãos…”), eu lhe proponho um exercício:
 
– Vamos tentar uma coisa? Primeiramente, respire fundo e vá dizendo para si mesmo: “Sim, eu me permito ficar ansioso, é legítimo me sentir assim…Eu acolho essa sensação, com tudo o que ela traz… Eu acolho a taquicardia…Eu acolho a falta de ar…Sim, eu acolho o medo que essas mudanças estão me trazendo…”
 
Assim, ele o faz. Lenta e tranquilamente, trabalhamos a inclusão de seus desconfortos. No final, nitidamente mais tranquilo, ele diz: “Ué…que mágica foi essa? Por que a ansiedade desapareceu? Por que me sinto melhor, mais inteiro? O que aconteceu aqui?”
 
A mágica pode ser explicada pelo que Bert Hellinger, o genial criador da Teoria das Constelações Sistêmicas, expõe:
 
“Tudo aquilo de que me lamento ou queixo, quero excluir. Tudo aquilo a que aponto um dedo acusador, quero excluir. A toda a pessoa que desperte a minha dor, estou a excluí-la. Cada situação em que me sinta culpado, estou a excluí-la. E desta forma vou ficando cada vez mais empobrecido.
 
O caminho inverso seria: a tudo de que me queixo, fito e digo: sim, assim aconteceu e integro-o em mim, com todo o desafio que para mim isso representa. E afirmo: irei fazer algo com o que me aconteceu. Seja o que for que me tenha acontecido, tomo-o como a uma fonte de força. É surpreendente o efeito que se pode observar neste âmbito. Quando integro aquilo que antes tinha rejeitado, ou quando integro aquilo que é doloroso para mim, ou que produz sentimentos de culpa, ou o que quer que me leve a sentir que estou a ser tratado de forma injusta, o que quer que seja… quando tento incorporar tudo isso, nem tudo cabe em mim. Algo fica do lado de fora. Ao consentir plenamente, somente a força é internalizada. Tudo o resto fica de fora sem me contaminar. Ao invés, desinfecta, purifica-me. A escória fica de fora, as brasas penetram no coração.”
 
Dessa forma, a exclusão de determinada situação, sensação ou pessoa, enfraquece o sujeito, tira-lhe a força da vida. Essa é a primeira lei das Constelações Sistêmicas: o PERTENCIMENTO.
 
Todos temos, às nossas costas, pessoas que vieram antes: pais, avós, bisavós, tataravós etc. Se essas pessoas não tivessem existido, obviamente não estaríamos aqui. Aliás, se tirássemos do Sistema uma única dessas pessoas, não seríamos quem somos. Mesmo que um antepassado tenha tido uma conduta reprovável, a verdade crucial é: ele pertence ao Sistema! E ponto final! Aqui, não se trata de julgar, concordar com o comportamento danoso mas, sim, de ACEITAR esse pertencimento. E aceitar quer dizer, na prática, o seguinte: “Sim, ele(a) pertence. Ele(a) é (foi) meu pai…minha mãe…meu avô…minha bisavó…E eu só existo porque ele(a) existiu. Eu aceito essa realidade e a trago ao meu coração”
 
As Constelações nos ensinam a não nos determos nas polaridades: OU o ódio OU o amor; OU o abusador OU a vítima; OU a tranquilidade OU a ansiedade. A força nos chega quando, ao invés de enfatizarmos o “OU” nos permitimos, de coração, inserir o “E”: o ódio E o amor; o abusador E a vítima; a tranquilidade E a ansiedade. Porque tudo faz parte do contexto! Tudo pertence! Todos pertencem! Deixar alguém ou algo de fora, significa ser perseguido por fantasmas ao longo da vida. E fantasmas podem se manifestar na forma de um pressentimento permanente de que algo vai dar errado. A vida é linda, tudo está dando muito certo mas…em algum momento, essa felicidade irá por água abaixo. Ou, então, alguém, em uma geração posterior irá comportar-se de uma determinada maneira que relembrará o que foi excluído, na tentativa de trazê-lo de volta ao sistema familiar.
 
Para que fique mais claro, vamos a um exemplo prático: imagine alguém, fruto de um relacionamento fortuito entre um homem e uma mulher. O pai, alcoolista e inconsequente, não o assumiu e ele foi criado com muita dificuldade pela mãe. E esse menino vai desenvolvendo sua personalidade, ouvindo toda sorte de barbaridades contra o pai, que é visto pela família materna como um crápula aproveitador. Mas seu coração inconscientemente se entristece, haja vista que 50% de quem ele é vieram do lado paterno. Então, rejeitar esse pai é rejeitar metade de si mesmo. Só que a vida passa e esse homem tem um filho que – por que será? – vai crescendo alcoolista e inconsequente, tal e qual o avô. Ou seja, tudo o que eu rejeito, me assombra, ganha força desmedida. E quanto mais eu luto contra…mais cresce o poder que o rejeitado tem sobre mim.
 
Impossível integrar e aceitar o que passei anos da minha vida tentando esquecer? Difícil, talvez, já que a vida é um processo e mudanças súbitas tendem a ser inconsistentes. Mas não é impossível. O primeiro passo é a reflexão sobre tudo isso. O segundo passo é verificar a própria disponibilidade para mudar. O terceiro passo é buscar ajuda para tal, pois, muitas vezes, não se consegue subir essa escada sozinho. Porém, lá no topo, a vida pode ser mais leve!
 

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