E se…?

Seguia eu, bem tranquila, por uma via preferencial, à velocidade moderada, em uma manhã de quinta-feira. De repente, um impacto na lateral direita do carro, me fez rodar na pista e parar de frente ao meio fio. Meio atordoada, desliguei o motor e saí chispando. Atravessei a rua, abri a porta do canil e soltei todos os meus Pitbulls no senhorzinho, visivelmente alcoolizado:

– Que absurdo, o senhor não tem vergonha, não? Não viu a placa de PARE? O senhor avançou a faixa, a preferência era minha! Que coisa horrorosa! O senhor bebeu, eu estou sentindo seu hálito! Olha aí, não consegue nem falar direito! Que absurdo!

Aos Pitbulls, juntaram-se meus Rottweilers e meus Dobermans interiores. Furiosíssima, despejei impropérios em cima do homem. E assim continuei por um bom tempo, ao falar com o corretor de seguros do mesmo.

– Que absurdo! Como é que vocês fazem seguro pra um homem bêbado desses, a essa hora da manhã?

Visivelmente frustrada, desisti de ir trabalhar e, num calor infernal, fiquei esperando o reboque, já pensando nas consequências da ausência do carro, pelas próximas semanas.

E me pus a pensar na labilidade da vida. Você planeja seus dias, suas férias, sua aposentadoria e, num segundo…ploft! Seu castelo de areia desmancha.

Conheci um senhor cujo caso me impressiona até hoje, não obstante ele já tenha partido há vários anos. Iria aposentar-se dali a pouco mas, antes da retirada final, deveria gozar vários meses de férias-prêmio. Despediu-se de todos, no último dia de trabalho, preparando-se para o primeiro dia de liberdade. Que não veio. Pois ele faleceu no dia seguinte. O resultado é que, não tendo gozado as férias a que tinha direito, a instituição teve que pagar um dinheirão para a família. Não creio que tenha se importado pois, pela minha crença, no lugar onde ele se encontra, não há espaço para materialismos.

Minha programação para a quinta-feira era ter um dia tranquilo de trabalho. Não foi o que ocorreu e ainda tenho que agradecer a Deus o fato de não ter acontecido coisa pior. Poderia estar escrevendo, agora, do alto de uma cama hospitalar. Benza Deus!!!

Fiquei matutando, também, sobre o “se”: e se eu tivesse saído 5 minutos mais cedo? E se eu tivesse saído 5 minutos mais tarde? E se eu tivesse feito outro caminho? E se Deus tivesse querido me livrar desse acidente? E se…..? E se….? Bem, caro leitor, o “se” não existe. É condicional e, como expõe o dicionário, “contém, implica, é sujeito a ou dependente de uma condição; incerto, condicionado…. que expressa condição ou suposição; que introduz, contém ou implica uma suposição ou hipótese.”

Se quisermos, podemos acrescentar uma lista infindável a essas condições: E se eu não tivesse me casado? E se eu tivesse me casado com outra pessoa? E se eu tivesse tido filhos? E se eu não tivesse tido filhos? E se eu tivesse passado no concurso? E se eu tivesse largado o emprego? E se minha mãe não tivesse morrido? E se o Lula não tivesse sido eleito? E se a Dilma não tivesse sofrido o impeachment? E se eu tivesse me mudado do País? E se eu tivesse nascido em outro País? Angustiante, não é mesmo? Pois a vida dilata-se, contrai-se, estreita-se e segue em curvas, retas, altos e baixos, num piscar de olhos.

Mil perguntas que nunca serão respondidas. O cinema bem que tenta dar sua versão para o condicional. A Dona da História, O Feitiço do Tempo, Duas Vidas, De Volta Para o Futuro e outros tantos filmes demonstram como essa questão povoa o imaginário humano.

Mas não existe “​ E ​SE​…?​”, não existe mais passado, nem tampouco o futuro. Existe o acontecendo, o agora. E que possamos ter discernimento para ter sobriedade, serenidade e tomar as atitudes mais adequadas quando o presente nos frustra. Certamente, aprendi bastante com essa batida” da vida.

 

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