Construindo Um Relacionamento Feliz – Parte 3
Continuando nossa prosa, falemos agora sobre os mitos do relacionamento:
5) “Encontrei a minha metade da laranja”
Muito lindo isso, mas pouco funcional. Novamente vigora a ideia do amor romântico, aquele que supre e suprirá todas as nossas carências, não deixando lugar para a mínima infelicidade. Na prática, essa convicção só gera frustração, pois todos nós – todos nós!!! – somos seres humanos incompletos. Tive um professor de psicanálise que dizia que, a partir do momento em que saímos da barriga da nossa mãe e o médico corta o cordão, passamos o resto da vida tentando acoplar esse côto umbilical nas outras pessoas e nos objetos, de forma a minimizar a ideia de incompletude. Mas a sensação de plenitude que gozávamos no útero materno jamais – jamais!!! – retornará. Então vamos nos iludindo que existirá, em algum lugar do mundo, aquele ou aquela que será nossa alma gêmea. Quantos relacionamentos desfeitos por causa dessa ideia equivocada! Ao mínimo sinal de frustração, que com certeza virá, esvai-se a imagem da laranja completa.
Um relacionamento funcional e equilibrado exige entender que o outro é tão imperfeito e incompleto como eu também sou e, por isso mesmo, também está à procura de completude e não poderá preencher absolutamente ninguém. Maturidade pressupõe entender que tenho que ser inteiro, tenho que conhecer minhas potencialidades e limites para que possa manter um relacionamento saudável – comigo e com os outros. É bastante doído desistir desse idílio amoroso, mas é absolutamente vital que o façamos, para termos uma vida mais próxima da realidade;
6) “Encontrei meu príncipe/ princesa encantado(a)”
Dizem que a culpada de as mulheres acreditarem no príncipe encantado é a Disney; e que a culpada de os homens acreditarem na mulher ideal é a Playboy. Pois, é…nenhum dos dois existe, a não ser na nossa imaginação e, com esta, fazemos o que queremos.
Todas as histórias da Disney dizem de uma princesa lânguida que é salva por um príncipe maravilhoso, que a resgata de seu destino trágico. Mas, será que, nos dias de hoje, alguma mulher tem que ser salva por tão distinto cavalheiro? As mulheres trabalham, se viram, sustentam casa mas continuam imaginando que a vida seria bem mais fácil se fossem amparadas pelo homem perfeito, lindo e rico. Essa cena, por mais bem resolvidas que sejam as mulheres, ainda povoa o imaginário feminino. E os homens – os latinos, pelo menos – ainda acreditam que sua mulher perfeita será uma exímia profissional, dona de casa exemplar, mãe dedicada e ainda, entre 4 paredes, um vulcão sexual.
É uma canseira posar de perfeito(a), seja o príncipe garboso, seja a doce princesa.
Melhor, mais verdadeiro, mais honesto, é não exigir do outro – e nem de si mesmo(a) – a conduta diária irretocável. Até porque NÃO existe o “casaram e foram felizes para sempre”. Melhor dizer: “Casaram e seguiram pela vida, batalhando por sua felicidade, todos os dias de sua existência”