Sobre Narciso, espelhos e eleições presidenciais

narcisoDizem que tudo na vida passa. Até a uva “passa”. Passou a Copa do Mundo… Passaram as eleições… E, independente do resultado, de alívios e frustrações, de temores e indignações, gostaria de me deter em uma frase da música Sampa, de Caetano Veloso: “Narciso acha feio o que não é espelho”.

O que vimos nas redes sociais, nas revistas e jornais foi uma verdadeira guerra entre azuis e vermelhos. Não quero discutir, aqui, ideologia política nem descontentamentos e revoltas com a forma de governar, nem corrupções e mensalões. Repito: Não é isso que quero discutir! Esse tipo de assunto já foi exaustivamente comentado. Gostaria de ir um pouco mais além, naquilo que o ser humano tem de singular, mas, também, de grupal. Estou falando daquilo que Freud expôs em “Psicologia de Grupo e Análise do Ego”, livro no qual evidencia o aparente contraste entre a psicologia individual e a psicologia social. Individualmente, o ser humano reage de uma determinada maneira; quando amparado pela massa, pode mudar seu comportamento, devido aos processos de sugestão e influência de um líder. Resumindo: eu penso “assim”, mas, desde que haja forte mecanismo de sugestão das pessoas ao meu redor e fascinação por alguém que encarne aquilo que eu julgue que vai me salvar das desgraças da vida, caio em uma espécie de hipnose e passo a pensar “assado”. E começo a achar feio, desprezível, caquético aquele que pensa diferente de mim. Como diz Caê, “chamei o que vi de mau gosto, mau gosto…” É por isso que Atleticanos brigam com Cruzeirenses e vice-versa. E poderíamos citar inúmeros outros exemplos…

Não foi o que vimos nas redes sociais? Não é o que ainda estamos vendo? O “Brasil do Sul” revoltado com o “Brasil do Norte”? Os ânimos inflamados a pedirem a separação da Federação e o preconceito explícito com aqueles que são julgados como inferiores? É exatamente isso que fazemos quando encontramos quem pensa e age diferente de nós, pois os iguais nos dão a sensação de que  – sim – estamos certos! Sim, nossa maneira de pensar é a mais correta que existe! Os iguais nos dão a sensação de pertencimento a um grupo e isso é essencial para a nossa sobrevivência na civilização. Mas também é essencial que respeitemos a alteridade de quem está ao nosso lado. Afinal de contas, cada um de nós tem sua biografia, única e exclusiva, e só podemos olhar com condescendência para o outro se houver empatia. Conforme o pequeno trecho atribuído a Clarice Lispector (Não posso confirmar a autenticidade da autoria): “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter… calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida.”

Que saibamos respeitar nossa história de vida, assim como os caminhos percorridos por nossos semelhantes, ainda que sejam diferentes de nós.

Abraços

 

 

(texto escrito por ocasião das eleições presidenciais de 2014)

Ivana Rocha

Olá! Sou Ivana Rocha, psicóloga responsável por esse site. Moro em Belo Horizonte e trabalho para o mundo, já que a internet encurta distâncias e facilita o atendimento de pessoas que, antes do advento da web, não tinham acesso a atendimento psicológico. Nesse espaço você vai encontrar textos escritos por mim e vídeos que posto no Youtube, visando estimular reflexões a respeito do cotidiano de todos nós. Também vai saber um pouco mais a respeito do meu trabalho, que desenvolvo através da orientação psicológica e de cursos via internet e de palestras e oficinas presenciais. Minha missão é essa: divulgar minha mensagem a um número cada vez maior de pessoas, para que elas possam ser replicadoras dentro do seu próprio universo e, com isso, criarmos uma corrente do bem. Navegue à vontade. A casa é sua!

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