Por que tenho medo de lhe dizer “NÃO”?

 

“Você pode ficar com os meninos amanhã, pra mim? Vou sair com o Daniel.” Ela sorriu amarelo. Sua tão planejada noite de queijos, vinhos e filmes acabava de ir por água abaixo. Mas coitada da irmã. Com 2 filhos pequenos, tinha que se virar para arrumar tempo para o marido.

“Estivemos conversando aqui e achamos que você é a pessoa ideal para ser o novo representante de sala junto ao colegiado. Já foi eleito por unanimidade!”
Recebeu os tapinhas nas costas, sem saber direito o que sentia. Sorriu, sem graça, já antevendo toda a responsabilidade que teria que assumir. Mas disse sim.

“Quem pode levar a mamãe ao médico, na terça-feira, às 8 da manhã? Eu não posso porque tenho que trabalhar.”
“Também não posso, tenho consulta nesse dia.”
“Nem eu. Vou viajar pra São Paulo na sexta e volto na outra quarta.”
“Marina tem prova nesse dia e vou ter que estudar com ela.”
Os olhares se voltaram para a caçula que não teve outro jeito, senão concordar. Ia perder prova na faculdade.

Começara um namoro meio sem querer. Mas ela parecia tão apaixonada! Engatara o noivado também meio sem querer. Mas ela lhe era tão devotada! E, agora, ia casar. Também sem querer. Em que ponto havia se perdido de si mesmo?

“Sabe o que é? Eu queria muito fazer terapia com você. Você foi tão bem recomendada! Mas, agora – sabe como é, né? – o país tá numa crise brava e eu não ganho muito. Queria saber se você pode fazer um preço melhor pra mim.”
“Qual é sua proposta? Quanto você sugere?”
“Ah, eu posso pagar 1/4 do valor que você cobra.”
Engoliu em seco. O valor era humilhante. Mas consentiu.

“Estamos com um problema de troca de horário de pessoal. Precisamos cobrir todos os setores, mas não temos gente suficiente. Você pode dobrar na quinta e na sexta?”
Não conseguiu dizer não.

Essas pequenas histórias ilustram, de leve, o sofrimento por que passam as pessoas incapazes de dizer não.
​(Identificou-se com alguma delas?). ​
Vontade, elas até que tem, de serem assertivas e colocarem seus desejos de forma transparente. Mas
​uma força maior do que elas mesmas as impede.
E o que seria esse algo?

Em muitos casos, essa incapacidade pode sinalizar, além de outras coisas:​

​- ​Uma vontade incontida de ser aceito e benquisto pelos outros;
​- ​Sensação (que, geralmente, é adquirida na infância e persiste via afora) de que seus desejos não são importantes;
​- ​Vaidade e orgulho;
– Dificuldade de enfrentar um conflito;
– Desconhecimento a respeito dos seus próprios desejos;
– Dificuldade em assumir suas escolhas e as subsequentes consequências de seus atos.

Apesar de todas essas possíveis causas, a origem maior parece apontar para a baixa autoestima. Uma pessoa consciente de quem é, de seus acertos, desacertos e limites, além de madura e responsável, certamente tem equilíbrio e centramento para lidar com as várias situações da vida. Alguém que se ama e se sabe merecedora de atenção – sem ser egocêntrica – jamais se deixará atropelar pelos outros ou por si própria.

Portanto, refaçamos as histórias:

“Você pode ficar com os meninos amanhã, pra mim? Vou sair com o Daniel.”
​”Posso, sim. Até às 22 horas. Depois disso, já tenho outros planos.”

“Estivemos conversando aqui e achamos que você é a pessoa ideal para ser o novo representante de sala junto ao colegiado. Já foi eleito por unanimidade!”
​”Ah, rapai…vai dar não! Se eu pego isso daí, vai me prejudicar nos estudos. Tô com tempo, não!”​

“Quem pode levar a mamãe ao médico, na terça-feira, às 8 da manhã? Eu não posso porque tenho que trabalhar.”
“Também não posso, tenho consulta nesse dia.”
“Nem eu. Vou viajar pra São Paulo na sexta e volto na outra quarta.”
“Marina tem prova nesse dia e vou ter que estudar com ela.”
Os olhares se voltaram para a caçula que ​disse:
​”Nossa! Nesse dia não posso! Tenho uma prova superimportante na faculdade e não vou ter nova chance de fazê-la. Vocês todos, têm mesmo certeza absoluta de que não vão poder acompanhar mamãe?​”

Começara um namoro meio sem querer. Mas ela parecia tão apaixonada! Engatara o noivado também meio sem querer. Mas ela lhe era tão devotada! E, agora, ia casar. Também sem querer. Em que ponto havia se perdido de si mesmo?
Ele mesmo responde: “Foi quando não soube reconhecer meus limites e me atropelei. Mas, por mais duro que possa parecer, ainda dá tempo de retroceder. Preciso de ajuda profissional. Antes tarde do que nunca.​”

“Sabe o que é? Eu queria muito fazer terapia com você. Você foi tão bem recomendada! Mas, agora – sabe como é, né? – o país tá numa crise brava e eu não ganho muito. Queria saber se você pode fazer um preço melhor pra mim.”
“Qual é sua proposta? Quanto você sugere?”
“Aheu posso pagar 1/4 do valor que você cobra.”
​”Nossa, que pena! Eu tenho um valor mínimo e me pauto por ele. Infelizmente, o que você está propondo está muito aquém do que é interessante para mim. Mas, se quiser, posso te indicar profissionais que fazem um preço social.”

“Estamos com um problema de troca de horário de pessoal. Precisamos cobrir todos os setores, mas não temos gente suficiente. Você pode dobrar na quinta e na sexta?”
“​Posso na quinta. Na sexta, já tenho compromisso agendado.”

Agora, pare e reflita: se você também sofre com essa situação, responda:

– O que de pior poderia me acontecer se eu dissesse “Não”? E como eu reagiria?
– A quem temo desagradar?
– De onde surge esse dificuldade?

E saiba que, acima de tudo, quem diz muito “sim” para os outros, é porque está dizendo muito “não” para si mesmo.

escrita

Website:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *