Padecer no Paraíso – texto escrito em homenagem ao Dia das Mães

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Levei minha filha mais nova ao pronto atendimento de um hospital infantil. Nada grave, somente dor de garganta e uma obstrução nasal que a impediu de dormir – e a mim também.

Enquanto aguardo o monitor chamar nossa senha, observo. Na sala de espera, muitas mães e alguns pais, com seus filhos de todas as idades. Muito choro infantil, muita inquietação. Mães se levantam e passeiam pelo corredor, na tentativa de acalmar seus bebês. Outros pais conversam entre si, partilhando as dores de suas crianças.

Começo a pensar que, ao nos vir a vontade de ter filhos, não sabemos o que nos espera. Não sabemos, mesmo! Queremos um bebê Johnson’s, bochechudo e risonho, a iluminar nossos dias. Inferimos – muito teoricamente – que trocaremos muitas fraldas, que dormiremos pouco, que não poderemos – por um bom tempo – passar o carnaval em Salvador, que nosso dinheiro acabará antes do final do mês… Sabemos tantas coisas… racionalmente.

Mas nada – nem ninguém – nos prepara, verdadeiramente, para as emoções avassaladoras que brotam do coração quando pegamos nosso pequeno – ou pequena – nos braços.

E para o cansaço ininterrupto que transforma a outrora estável mulher em uma chorona descontrolada.
E entre aleitamento, banhos, noites não dormidas, papinhas, frutinhas e vacinas, vamos rompendo os anos.

E chega a hora de voltar ao trabalho. Babá, escolinha ou vovó?

E o coração não bate mais por si só, pois uma parte dele bate no corpinho de outra pessoa. E enquanto nossos filhos riem, brincam, brigam, somos felizes. Mas basta uma dor, um choro, um machucado, uma falta de apetite naquele que antes comia um boi no almoço e ficamos infelizes. E preocupados. Preocupação essa que se perpetua pela vida afora, principalmente quando irrompe a adolescência e temos a nítida sensação que alienígenas se apossaram das mentes e dos corpos dos nossos filhos, transformando-os em seres irreconhecíveis. Aí é que a gente põe a unha na cabeça, mesmo! “Oh, céus! Por que não me avisaram que meu bebezinho bochechudo se transformaria…nisso? Será que algum dia o terei de volta?”. Não, não o teremos nunca mais. E isso dói!

Para nós, que assumimos a função materna com unhas, dentes, cabelos desgrenhados e olheiras, o filho pode chegar aos 50 anos, mas, mesmo assim, ainda achamos que somos onipotentes e podemos curar suas feridas, suas desilusões amorosas e suas frustrações estudantis – profissionais.

Nada nos prepara para a dor-amor de ter um filho. Não há escola oficial para aprendermos a ser pais. Estreamos no papel tão logo nos nasce o pimpolho. E vamos passando de ano, às vezes com louvor, as vezes em recuperação. Mas nunca somos reprovadas porque, apesar de não fazermos tudo com perfeição, nossa intenção sempre é das melhores. Como diz minha sábia mãe: “Pé de galinha não mata pinto!”.

Apesar disso, muitas vezes temos vontade de comprar uma passagem de ida para algum lugar e, até, de tirar férias da gente mesma. Uma parte de nós deseja ardentemente a liberdade perdida. A liberdade da despreocupação, da cervejinha inocente e das tardes de domingo ressonando no sofá. Mas nos sentimos culpadíssimas por pensar assim. Afinal de contas, quantas mulheres desejam ter um filho e recorrem a métodos não naturais para isso? E nós, aqui – com um, dois ou três seres que carregam nossa carga genética – querendo sair de casa sem ter hora para voltar…

Alguns não dão conta (muito mais pais do que mães): abandonam o ser que geraram e somem no mundo. Seus recursos físicos e psíquicos foram inferiores às exigências da mater/paternidade. Quem pode culpá-los? Todos temos telhado de vidro, portanto, não é recomendável atirar a primeira pedra, sem se inteirar do tamanho da questão.

Para os que ficam, um efeito colateral muito positivo surge desse processo: Passamos a entender e respeitar nossos pais, porque inferimos que eles, também, podem ter passado por todas essas dificuldades que ora experimentamos. Passamos a honrá – los e a agradecer-lhes a vida que recebemos através de seus genes, de suas crenças e valores. E, mesmo aqueles que não conseguem reconhecer o valor dos pais que têm ou tiveram, seja por qual motivo for, não conseguirão se livrar do fato de terem recebido a vida através de determinado homem e determinada mulher. É algo que os acompanhará através das gerações futuras.

É isso: matamos e morremos por um filho, apesar de tanta preocupação, desgaste, cansaço e dores de cabeça e na alma. Como diz o delicado texto de Affonso Romano de Sant’Anna, “Antes que eles cresçam”, (http://www.portaldafamilia.org/artigos/texto001.shtml), só aprendemos a ser pais quando nos tornamos avós. Porque as exigências da maternidade se contrapõem à doçura da “avozidade”.
Fico por aqui. Chamaram nossa senha…

Ivana Rocha
Psicologia Via Internet
www.escritaquecura.com.br

Ivana Rocha

Olá! Sou Ivana Rocha, psicóloga responsável por esse site. Moro em Belo Horizonte e trabalho para o mundo, já que a internet encurta distâncias e facilita o atendimento de pessoas que, antes do advento da web, não tinham acesso a atendimento psicológico. Nesse espaço você vai encontrar textos escritos por mim e vídeos que posto no Youtube, visando estimular reflexões a respeito do cotidiano de todos nós. Também vai saber um pouco mais a respeito do meu trabalho, que desenvolvo através da orientação psicológica e de cursos via internet e de palestras e oficinas presenciais. Minha missão é essa: divulgar minha mensagem a um número cada vez maior de pessoas, para que elas possam ser replicadoras dentro do seu próprio universo e, com isso, criarmos uma corrente do bem. Navegue à vontade. A casa é sua!

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